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19 outubro 2010

Em estado de choque.

Todos os dias à noite, minhas duas filhas reunem-se com as amiguinhas da vizinhança, e vão brincar na calçada. A rua onde moro é pacata. O bairro é um dos mais tranquilos da cidade. Por ser uma cidade interiorana, ainda há certa traquilidade nas ruas, e por isso, nunca tivemos muita preocupação em relação a isso.

De forma estranha, nenhuma das meninas saiu hoje para brincar. Nem as minhas, nem as da vizinhança. Todas estavam guardadinhas em casa.

E lá eu estava, no meu quarto, bem tranquila "tuitando", quando, por volta das 20h50min, ouço 6 disparos. Vi logo que não eram bombas "de são joão". Eram tiros.

Corri do jeito que estava, para ver o que tinha acontecido.  Pensei: como assim?? Tiros na rua em que moro??? Não pode ser.

Quando cheguei à calçada aqui de casa, olhei para o meu lado esquerdo, e pude ver o Jornalista F. Gomes, duas casas depois da minha, sentado no mesmo lugar onde sempre costumava sentar-se à noite: sua calçada. Porém, algo estava diferente. Ele estava coberto de sangue, e um pranto enorme se ouvia na rua. Não pude acreditar, mas era verdade: ele acabara de ser assassinado.

Congelei. E assim como todos os vizinhos, entrei em pânico. Ninguém sabia o que fazer. A mãe do jornalista e suas irmãs, que moram em frente  à casa dele (ou seja, do outro lado da rua) presenciaram tudo. Alguém numa moto, parou de frente a casa e descarregou cerca de seis tiros, à queima roupa, no jornalista que tranquilamente descansava sentado numa cadeira, dedilhando seu laptop (depois eu soube que "apenas" três ou quatro tiros, o atingiram).

Lembrei que minhas filhas poderiam ter visto tudo também. Afinal, elas brincam na calçada ao lado. Por sorte, hoje elas não saíram de casa.

Logo a rua se encheu de gente: polícia, amigos, vizinhos, pessoas do bairro, curiosos de outros lugares... Ninguém acreditava no que tinha acabado de acontecer.

Corri para o twitter e para o orkut, e comecei a dar, em primeira mão, a triste notícia. Teria sido meu primeiro "furo de reportagem", se eu fosse uma jornalista.
 
Mas, mesmo não sendo jornalista, quis compartilhar a agonia que senti naquele momento:

Acabaram de \dar cerca de 6 tiros/ no jornalista F. Gomes na porta de sua casa
Não acredito que ele tenha sobrevivido... Detalhe: ele mora há duas casas da minha..
Tô muito nervosa aqui
Escutei os tiros daqui do quarto!!!!!
Tá todo mundo louco gritando aqui na rua......
O jornalista já tinha sido ameaçado várias vezes e é uma figura muito conhecida na região
Não tô acreditando que isso aconteceu!!!! Muito louco!
Caracaaa!! Tem um homem morto à tiro, quase na porta da minha casa....

 
Gente, eu nunca imaginei passar por um troço desses. Tô chocada até agora.
 
Nesse momento em que escrevo, a rua já foi interditada. Há uma grande aglomeração de pessoas em frente a casa dele. A notícia já se espalhou por todo o estado, e até no Brasil (O Jornal “O Globo” - Online, também já divulgou a notícia).  A amanhã, a minha rua tão pacata, estará nas principais páginas policiais.

Casa do jornalista. Calçada em que ele foi morto. Foto: Blog do Cardoso Silva
 
Uma grande perda para o jornalismo. O RN perde uma grande voz. Alguém que não se calava perante às injustiças. Alguém que, por denunciar sem medo os crimes e os criminosos da região, teve seu direito à vida aniquilado, de uma forma bárbara e cruel.
 
E para nós, seus vizinhos aqui da rua, significa a perda do nosso mais ilustre morador... Muito revoltante.

Francisco Gomes - Jornalista e Radialista. Saiba mais.

Eles também noticiaram:
Tribuna do Norte: Assassinato de F. Gomes é destaque na imprensa nacional
Globo.com: Repórter de Crime - Radialista é morto em emboscada em Caicó (RN) 
Jornal O Globo: Radialista é assassinado no interior do Rio G. do Norte.

G1.com: Radialista é morto a tiros em Caicó, no interior do RN


5 mil pitacos!:

Juca Ajamil disse...

Hoje em dia infelizmente é assim: pessoas que têm coragem para dizer a verdade, apontar dedos e dar nome aos bois, vivem o risco diário de serem assassinadas.

Triste, muito triste. E muito tenso pra você, imagino. Espero que os responsáveis apareçam, porque a impunidade é o que estimula coisas assim.

Beth Amorim disse...

É verdade, Juca. Jornalistas de todo o Brasil já publicaram notas de repudio a esse tipo de situação.

Obrigada pelo comentário.

:: Mari :: disse...

Credo Beth, situação horrorosa essa... arrepiei, pois já vi uma coisa assim de perto, não gosto nem de lembrar, quase tive sindrome do pânico, pelo que vi, afff...

É revoltante a covardia de quem faz isso, espero que peguem os culpados.

Bjos

H. Moreira disse...

Nossa, já passei por algo assim. Mas felizmente ninguém se feriu. Meus avós nos levaram para uma festa na rua deles. Assim que saímos do carro eu e minha irmã atravessamos a rua em direção à casa da minha tia -estava indo chamar meus primos.
Saber que passei com minha irmã por três caras armados ainda me dá medo. Os caras tavam bem vestidos, mas sabe aquele "instinto"? Quando passei por eles senti um gelo.

Nós apertamos a campainha(é assim que se escreve?) e quando eu me virei vi os caras assaltando meus avós - meu irmão ainda bebê tava com eles- Caramba...
Eles 'só' levaram o carro e a carteira do meu avô. Eu com 11 anos só pude segurar minha irmã mais nova e acalmá-la para que não chamasse atenção.

Ainda assim, não posso imaginar a tristeza que a família dele sentiu. Espero mesmo que peguem quem fez isso.

Beth Amorim disse...

Mari e H. Moreira,

Obrigada pela solidariedade...

Quero deixar aqui o aviso de que já prenderam o bandido que assassinou o jornalista. Quem quiser ver a cara do safado, é só acessar o link:

http://www.robsonpiresxerife.com/blog/notas/policia-apresenta-autor-da-morte-de-radialista-f-gomes/

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